sexta-feira, 9 de julho de 2010

TEXTO SOBRE NOSSA VIAGEM II

Amigos
Este é o segundo texto sobre nossa viagem, publicado hoje no Comércio do Jahu. Espero que gostem.
Abraços
Wal

DE VOLTA ÀS ORIGENS II
Maria Waldete de Oliveira Cestari
O bem mais precioso que se pode adquirir numa viagem é cultura. Foi isso que todos nós trouxemos em nossa bagagem, nós que fomos à Itália, de volta às nossas raízes, à terra de nossos antepassados.
Andando pela Itália por cidades grandes, pequenas, vilarejos; por vales, lagos e montanhas, a cultura e a história entraram em nossa alma por todos os sentidos, porque se viu, se ouviu, se respirou, se provou e se sentiu tudo o que faz parte da sua identidade, que também é nossa, oriundi. Isso nos causou muitas emoções.
A história e a cultura do país são preservadas graças ao sentimento que une o povo às suas tradições e à valorização e conservação de seus usos e costumes; de seus prédios, monumentos; de suas músicas, danças, comidas; de sua memória, do legado de seus antepassados. Isso ocorre normalmente na Europa, onde se tem a plena consciência de que um povo sem memória é um povo sem futuro, é um povo sem identidade. Nada é derrubado e tudo é conservado, restaurado, cuidado, limpo, respeitado, valorizado e orgulhosamente apresentado e mostrado a todos. Ainda falta muito para nós brasileiros atingirmos esse patamar de conscientização. Infelizmente.
Em várias cidades pelas quais passamos vimos grandes e pequenos trabalhos de restauro e um fato marcante aconteceu em Fondo, uma pequena cidade de apenas um mil e quatrocentos habitantes, no Val di Non, o maior vale do Trentino, hoje em franco desenvolvimento graças à formação de cooperativas que produzem e comercializam maçãs.


Andando pelas ruelas, chegamos à igreja de San Martino, que foi aberta ao culto em 1858 e restaurada recentemente; sua grande porta de madeira da entrada, impecavelmente envernizada, se encontrava fechada.

Nós nos dirigimos a um rapaz que ali estava e para nossa surpresa, falava português. Era brasileiro, o baiano Cássio.


Ele nos contou que há alguns anos atrás participou de um curso de restauro em Salvador, ministrado por um especialista italiano. Ele se destacou entre os alunos e foi convidado para fazer um estágio na Itália. Em 2008 foi contratado para restaurar a igreja de San Martino. Ele nos levou ao interior dela e lá encontramos outro baiano, Paulo, cuja história era idêntica à de seu companheiro.



Eles nos explicaram o trabalho que realizam há dois anos na igreja. Primeiramente rasparam todas as paredes internas para retirar a pintura para encontrar a original; depois removeram os resíduos com materiais apropriados e finalmente, com aquarela, restauraram totalmente a pintura das paredes e do teto tomando cuidado para serem fiéis ao desenho original.

Tudo ficou como novo, graças a esses dois competentes brasileiros que nos deram uma aula sobre restauro, descrevendo e mostrando detalhes e minúcias interessantíssimas do trabalho.

Toda a parte externa do prédio da igreja foi raspada, porque a pintura feita com material inadequado, não deixava as paredes “respirarem”. Ganhou revestimento de uma tinta especial e ela teve o telhado trocado, bem como toda a parte elétrica e hidráulica, num projeto que custou um milhão e novecentos mil euros. (Coincidentemente, tudo o que precisa ser feito na nossa Matriz do Patrocínio e até o custo do projeto é semelhante.) Saímos dali culturalmente enriquecidos.


Um exemplo de preservação das tradições é o Coro Trentino Sosat, que fez uma apresentação especial para nosso grupo em sua sede social, um prédio do século dezessete. Fundado em 1926 e tendo se exibido em mais de um mil e quinhentos concertos na Itália, em países da Europa e América , o grupo composto de vinte e nove homens conserva, valoriza e difunde o canto popular alpino. Cantam sem acompanhamento (à capela) e muitas de suas músicas falam dos Alpes. O Trentino tem uma tradição musical muito grande e nas suas duzentas e vinte e duas cidades há grupos musicais tradicionais, especialmente coros.
foto de Marilda Rossetto Migliorini

Outro grupo musical que se apresentou especialmente para nós foi o Abies Alba, fundado em 1978, por causa do desejo de seus integrantes em retomar o folclore de matrizes celtas. Em 1991 o repertório se voltou às músicas tradicionais alpinas do Trentino e o seu próprio nome demonstra uma forte ligação com as terras do lugar: abies alba é um pinheiro muito encontrado na região. Os instrumentos e as músicas que tocam e cantam são típicas da tradição trentina e algumas fazem parte do repertório popular de outras regiões italianas.


Como se constata tudo se remete às raízes, às origens e preservar faz parte da vida e do cotidiano. Há muito mais o que contar e isso fica para o próximo texto.

Mais informações sobre a viagem em http://amigosnaitalia2010.blogspot.com

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