sexta-feira, 23 de julho de 2010

TERCEIRO TEXTO SOBRE NOSSA VIAGEM

Amigos
O Comércio do Jahu de hoje publicou o meu terceiro texto sobre nossa viagem ao Trentino.
Espero que gostem.
Abraços
Wal

"De volta às origens 3", de Maria Waldete de Oliveira Cestari
A Província Autônoma de Trento, ou Trentino, foi palco de muitas batalhas, de disputas territoriais e políticas durante vários séculos de sua história, por causa de sua privilegiada situação geográfica. No início da era cristã, quando pertencia ao império romano, sofreu invasões germânicas; no final do século 18 e início do 19 das tropas napoleônicas; em 1813 os austríacos a incorporaram ao seu império; em 1867, com a fusão das casas reais da Áustria e Hungria, passou a fazer parte do Império Austro-Húngaro, período em que a região passou por uma crise profunda, que motivou uma grande imigração para vários países do mundo, inclusive o Brasil. A I Guerra Mundial marcou o povo trentino como um período de disputas políticas e ideológicas, de perdas humanas e sofrimento da população. A região se tornou um campo de batalha e quando o conflito terminou, o povo teve que reconstruir suas vilas arrasadas e destruídas por incêndios. Além disso, houve inúmeras lutas internas como a rebelião tirolesa e a sublevação trentina.
Um passado de lutas, um presente de paz. É isso que se vê hoje no Trentino e um exemplo desse pensamento é a Fondazione Opera Campana Dei Caduti, situada na Colina Miravalle, em Rovereto, na Província Autônoma de Trento. Seus objetivos são educar as novas gerações para a paz e a fraternidade universais, promover os direitos humanos, reverenciar os mortos (caduti) de todos os conflitos e cuidar da manutenção do sino “Maria Dolens” (Maria Dolorosa), que tem esse nome porque suas badaladas soam como um lamento da mãe de Jesus pela sua morte.

Oitenta e quatro nações fazem parte da fundação e suas bandeiras ficam permanentes hasteadas no caminho que leva ao sino. O Brasil é uma delas.

Eu e os outros quarenta e dois integrantes de um grupo de descendentes de italianos, na maioria trentinos, em viagem pela Itália, tivemos o privilégio de conhecer esse local singular e é impossível não se emocionar ao visitá-lo.
A história do sino Maria Dolens é muito significativa. Ele foi idealizado pelo sacerdote Antonio Rossaro, em homenagem aos “caduti”.

Ele desejava que as badaladas fossem um chamado à pacificação, à fraternidade, à solidariedade; à paz.

Foi fundido em Trento, em 1924, com o bronze de canhões de dezenove nações que participaram da Primeira Guerra Mundial. Seu primeiro badalar ocorreu em quatro de outubro de 1925, no castelo de Rovereto, na presença do Rei Vittorio Emanuele III. Ao ouvi-lo, o padre não aprovou o som; ele foi refundido em Verona em 1939 e retornou à Rovereto em 1940. Por causa de uma rachadura, fundiu-se um novo sino em 1964 e ele foi colocado onde se encontra hoje. Tem mais de três metros de altura, é o quarto maior sino do mundo em tamanho e o único desse porte que soa.

Todos os dias, às nove e meia da noite, o sino dá cem badaladas, que ecoam pelo vale de Miravalle, cumprindo a vontade de seu idealizador. Fomos convidados a participar de uma cerimônia realizada aos domingos, que atrai pessoas de toda a Itália e dos países vizinhos. Nesse dia, o sino toca ao meio-dia e, antes, há apresentação de bandas, de conjuntos típicos, de delegações vestidas a caráter. Na frente do sino há duas arquibancadas (uma coberta e outra não) que juntas têm o formato de meia lua.



Por trás dele escancara-se o vale de Miravalle com suas cidadezinhas e suas plantações. Um lugar lindo.

Logo que chegamos, fomos surpreendidos por mais de cem motociclistas de Vespas, que, como vários grupos de turistas tipicamente vestidos, vieram para ouvir o sino.

Uma banda se apresentou tocando músicas tirolesas e alguns minutos antes do meio-dia, ela silenciou, assim como toda a multidão que ali estava.


Ao meio-dia em ponto, a enorme “campana dei caduti” começou a se movimentar de um lado para o outro e depois de alguns momentos, começou a soar.

As suas badaladas enchiam e vale e nossos ouvidos de um som triste, que nos remetia à história daquele povo, que teve que deixar tudo para imigrar, que teve suas casas e muitas vidas destruídas pelas guerras, que sofreu durante a dominação austro-húngara, mas que lutou com toda a sua força, se reergueu e transformou seu lugar na província mais rica da Itália. Foi impossível controlar as lágrimas nesse momento único, de grande emoção. Tudo testemunhado por um sol maravilhoso e um céu azul profundo.
Foi uma experiência maravilhosa e todos nós saímos dali gratificados por participarmos de uma cerimônia tão especial, que nos deixou ainda mais orgulhosos de nossa origem italiana.

Maria Waldete de Oliveira Cestari é professora.
Vídeos da Campana dei Caduti: http://amigosnaitalia2010.blogspot.com

Um comentário:

  1. Wal, sua capacidade de descrever o que vivemos e sentimos é maravilhosa!!!!! Beijo grande. Roseli.

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